Este artigo foi originalmente publicado no site do Instituto Desiderata em janeiro de 2025.

 

O Instituto Desiderata inicia, nesta segunda-feira (13/01), a segunda fase da Pesquisa de Favelas no Complexo da Maré, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro (RJ), e no Caramujo, no município de Niterói (RJ). Ainda neste mês de janeiro, ela será iniciada também na favela do Coque, em Recife (PE).

A pesquisa tem o objetivo de avaliar o ambiente alimentar e o estado nutricional de crianças desses territórios e é parte do trabalho do Desiderata na prevenção e cuidado com a obesidade infantojuvenil. Atualmente, existe uma lacuna sobre esse tipo de informação nas favelas brasileiras, especialmente entre crianças na faixa etária de 5 a 10 anos.

De acordo com estudos e dados do Panorama da Obesidade, plataforma desenvolvida pelo Desiderata com base em informações do SISVAN, vem crescendo a incidência de crianças que apresentam, ao mesmo tempo, desnutrição e excesso de peso. É a chamada dupla carga de má nutrição, que afeta principalmente aquelas que se encontram em situação de vulnerabilidade social. O estudo também vai ser importante para trazer informações sobre essa realidade.

O levantamento coordenado pelo Desiderata vai ser realizado por entrevistadores do Data Favela, um instituto especializado em pesquisas sobre favelas, que percorrerão residências para conversar com as famílias e realizar medição de altura e peso das crianças. As perguntas serão principalmente sobre hábitos alimentares e acesso aos alimentos na localidade onde vivem.

“Além de apresentar dados inéditos e importantes para a saúde coletiva, a Pesquisa de Favelas vai trazer elementos para o trabalho de advocacy do Desiderata, principalmente na incidência política, para que novas políticas públicas sejam desenvolvidas nas áreas de saúde e alimentação”, explicou Sophia Rosa, gerente de Obesidade do Desiderata.

Sophia Rosa
Gerente de Obesidade do Instituto Desiderata
Primeira fase da pesquisa

No mês de dezembro de 2024, o Instituto Desiderata realizou a primeira fase da Pesquisa de Favelas por meio de reuniões com grupos focais no Caramujo e na Maré. Nestes encontros, com o apoio de organizações parceiras e agentes comunitários, foram feitas rodas de conversas com alguns moradores desses territórios, com o objetivo de entender um pouco do cenário de cada lugar, as percepções pessoais sobre o tema da alimentação, além de já iniciar a divulgação da pesquisa.

Na favela do Caramujo, em Niterói, moradores presentes na roda de conversa apontaram que as crianças consomem muitas bebidas adoçadas e guloseimas que são baratas e agradam ao paladar, e disseram ainda que falta informação sobre o que é uma alimentação adequada e saudável.

“A alimentação aqui na comunidade, no geral, é ruim. O pessoal opta muito por lanche, ao invés das comidas saudáveis, como saladas. E as crianças também são difíceis de comer. A gente precisa ser o espelho dos filhos. Poderia ter mais palestras e conversas como essas de hoje, porque vai aumentando nosso entendimento sobre alimentação”, afirmou Thayanne Santos, dona de casa e moradora da favela do Caramujo, em Niterói.

Na Maré, grupo focal da pesquisa esteve reunido no Observatório de Favelas.

Já no Complexo da Maré, na zona norte do Rio, o preço dos alimentos e a situação financeira de muitas famílias foram destacados pelos participantes do grupo focal, que ocorreu na sede do Observatório de Favelas.

“Eu acho que a nossa alimentação não é muito boa. Dentro da minha casa, eu tento ter uma alimentação mais correta possível dentro do que eu idealizo, mas não temos condições financeiras também de ter essa boa alimentação. E tem aquelas pessoas que não se esforçam para ter a boa alimentação, porque é mais fácil. Achei importante esse interesse de saberem o que passamos, o que precisamos aqui dentro e seria muito interessante se as pessoas colaborassem para termos melhorias”, apontou Joyce Gabriel Vieira, manicure e moradora da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro.

No dia 17 de janeiro, será realizada a reunião do grupo focal da comunidade do Coque, em Recife. A Pesquisa de Favelas tem duração prevista de um ano e, no total, devem ser entrevistadas 450 famílias no Complexo da Maré, 250 no Caramujo e 250 na favela do Coque.

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