Este artigo faz parte do conjunto de atividades promovidas pelo projeto Programação ArtÃstico Familiar – PAF – PRONAC 223723 desenvolvido pelo Instituto Dara, apresentado pelo Ministério da Cultura através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
A economia criativa tem se consolidado como um importante vetor de desenvolvimento sustentável, geração de renda e inclusão social, especialmente para mulheres em situação de vulnerabilidade. Definida como o conjunto de atividades econômicas baseadas no capital intelectual, cultural e na criatividade, essa economia abrange setores como artesanato, moda, design, música, audiovisual, literatura e tecnologia. Para mulheres que enfrentam desafios como baixa escolaridade, acesso limitado ao mercado de trabalho formal ou histórico de violência, a economia criativa oferece uma oportunidade concreta de autonomia financeira e empoderamento.
Desigualdade de Gênero, Renda e Educação
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica), as mulheres ainda recebem, em média, cerca de 78% do salário dos homens para as mesmas funções. Essa desigualdade se acentua entre mulheres negras, periféricas ou com baixa escolaridade. A falta de acesso a uma educação de qualidade também limita as oportunidades de inserção dessas mulheres no mercado de trabalho formal, mantendo um ciclo de pobreza e exclusão.
A educação é um fator determinante na superação dessa condição. No entanto, barreiras históricas, como a divisão desigual do trabalho doméstico, gravidez precoce e falta de polÃticas públicas eficazes, ainda restringem o acesso de muitas mulheres à qualificação profissional. Nesse contexto, a economia criativa surge como uma alternativa inclusiva e acessÃvel.
Economia criativa como porta de entrada para a autonomia
Uma das principais virtudes da economia criativa é sua capacidade de gerar valor a partir de saberes tradicionais, culturais e pessoais — muitas vezes marginalizados pela economia convencional. Mulheres artesãs, por exemplo, podem transformar técnicas herdadas de gerações passadas em produtos valorizados por nichos de mercado, sem a exigência de grandes investimentos iniciais ou diplomas formais.
Além disso, plataformas digitais e redes sociais têm ampliado o alcance desses produtos e serviços, permitindo que mulheres atuem de suas próprias casas, conciliando as responsabilidades familiares com o trabalho. Projetos culturais vêm desempenhando papel crucial nesse processo.
Indicadores de Impacto
Estudos demonstram que mulheres inseridas em programas de economia criativa têm um aumento médio de 20% a 40% na renda mensal em comparação com aquelas fora desse ecossistema. Além disso, iniciativas que combinam capacitação técnica com alfabetização digital e apoio psicológico resultam em maior permanência dessas mulheres em atividades econômicas sustentáveis.
A Organização das Nações Unidas (ONU) também reconhece a economia criativa como motor de inclusão de gênero. O Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) destaca que, quando há investimento em polÃticas públicas voltadas à capacitação criativa de mulheres, há um impacto positivo direto nos indicadores de educação, saúde e bem-estar de famÃlias inteiras.
Caminhos e oportunidades
Assim, como as dificuldades de acesso à s estruturas de oportunidades sociais, econômicas e culturais são fatores comuns, mas cada famÃlia vive a vulnerabilidade de forma especÃfica, a tecnologia social do Instituto Dara, o Programa de Ação Familiar, é centrada na famÃlia e isso é fundamental, porque alia conhecimento e experiência acumulados por profissionais do Dara e por parceiros com as necessidades, demandas e possibilidades especÃficas de cada grupo familiar. As famÃlias que chegam ao Dara trazem consigo marcas profundas das privações impostas pela situação de vulnerabilidade socioeconômica. Em função disso, o estÃmulo para geração de renda é parte fundamental para o processo de transformação de vidas. Seu trabalho é gradativo, desafiante e participativo, pois inclui a famÃlia e seus membros como sujeitos ativos no desenvolvimento das ações.Â
Na prática, para construir e sugerir possÃveis ações formativas que possibilitem a geração de renda em curto e médio prazos, o Dara realiza diagnósticos que incluem:Â
- identificar as habilidades existentes na famÃlia;Â
- apresentar novas oportunidades após cursos feitos, que envolvem o aumento de empregabilidade ou a possibilidade de investir no empreendedorismo com foco na economia criativa;
- desenvolver e executar projetos ligados à economia criativa e à cultura que, tanto capacitem as mulheres para geração de renda, tragam visibilidade para os produtos criados por elas e ampliem o repertório artÃstico e cultural.
O Projeto Programação ArtÃstico Familiar
Por meio do Pronac 223723, o projeto Programação ArtÃstico Familiar tem como objetivo estimular a produção artÃstica de pessoas em situação de vulnerabiulidade social, com foco em mulheres negras e pardas, mães e crianças atendidas no Instituto Dara. O Projeto acredita na arte como motor de transformação social e busca atender aos Incisos I, II, V, VIII e IX do Art. 1º da Lei 8313/91:
I – contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso à s fontes da cultura e o pleno exercÃcio dos direitos culturais;
II – promover e estimular a regionalização da produção cultural e artÃstica brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais;Â
V – salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade brasileira;
VIII – estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal, formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória;
IX – priorizar o produto cultural originário do PaÃs.
No âmbito do projeto, O Dara oferece atividades de empreendedorismo relacionadas à economia criativa e à produção cultural e artÃstica promovendo a descoberta de interesses e o fortalecimento da autoestima, fundamental para que elas reconhceçam seu potencial.
Para ampliar os benefÃcios da economia criativa entre mulheres em situação de vulnerabilidade, é importante investir em formação técnica e criativa acessÃvel, com foco na realidade local e na valorização de saberes e potenciais existentes. Além disso, é fundamental criar e fortalecer redes de apoio, conectando mulheres e famÃlias e oferecendo suporte emocional.
A economia criativa não é apenas uma via de geração de renda. É uma ferramenta poderosa de transformação social, capaz de romper ciclos de pobreza e promover a autonomia de mulheres historicamente excluÃdas. Ao aliar criatividade, cultura e empreendedorismo, ela oferece um novo horizonte para milhares de mulheres que buscam não apenas sobreviver, mas prosperar e viver todo o seu potencial.