Como o racismo afeta a saúde?

As pessoas mais vulneráveis, em situação de empobrecimento, de baixa renda, em sua maioria negras, vivendo em territórios expostos à violência e sem condições básicas de estrutura e saneamento, são mais suscetíveis a complicações de saúde. Do sofrimento físico e emocional, causado pelo número de horas em deslocamento por condições precárias de transporte urbano, passando pela desnutrição, diabetes ou pressão alta, muitas vezes resultado do consumo de alimentos mais baratos e menos nutritivos, são diversos os fatores econômicos, ambientais e sociais que influenciam a qualidade da saúde. Somado a tais fatores, o racismo na saúde também pode se manifestar na persistência da reprodução de estereótipos no tratamento e no cuidado da população negra, como, por exemplo, minimizar ou duvidar das queixas do paciente, faltar com empatia no atendimento obstétrico dado a mulheres negras, especialmente as jovens e aquelas que tem mais de um filho. No caso da doença falciforme, doença hereditária que atinge principalmente a população negra, apesar da mortalidade ainda ser muito alta no Brasil, há pouca divulgação dos dados, revelando o quanto o racismo atravessa todos os aspectos relacionados à saúde.

Racismo e Políticas Públicas

Para ajudar moradores e profissionais de territórios periféricos, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou a cartilha “Saúde na favela numa Perspectiva Antirracista”. A publicação aborda, entre outros, temas relacionados ao direitos da população, os tipos de crimes raciais e a relação entre saúde e violência obstétrica. A iniciativa está alinhada com a recente Portaria nº 2.198/2023, publicada em dezembro de 2023 pelo Ministério da Saúde e que trata de instituir uma Estratégia Antirracista para a Saúde. O objetivo é garantir a promoção da equidade étnico-racial e estabelecer que o enfrentamento ao racismo contra negros, indígenas e outros grupos minoritários estejam presentes em todas as políticas de saúde.  Em cooperação com o Ministério da Igualdade Racial, o plano tem como eixos de atuação a formação e monitoramento de dados. Entre as prioridades estão a promoção da saúde integral da mulher negra, a criação de políticas públicas de saúde mental, e a educação em saúde em uma perspectiva antirracista

Educação Antirracista no Instituto Dara

No Instituto Dara, todos os dias as famílias atendidas pela organização se encontram no Aconchego, um espaço onde, por meio de rodas de conversa, busca-se fortalecer as relações sociais, promover a escuta, a informação e a reflexão sobre temas diversos que afetam o cotidiano das pessoas mais vulneráveis. É também uma oportunidade para orientar as famílias com relação aos seus direitos e uma forma de desenvolver uma consciência crítica, fundamental para o exercício da plena cidadania. 

Quantas vezes vocês foram atendidas por médicos negros? Quando vocês pensam em médicos, biólogos, políticos, qual a cor da pessoa que vem a cabeça? Foi com perguntas como essa que Deivid  Ferreira da Silva Mattos, Assistente social e mestre pela UFRJ, mediou um encontro sobre Racismo na saúde. A partir das reflexões do grupo, Deivid foi apresentando diferentes aspectos da formação social brasileira e do racismo como fenômeno estrutural, produtor de hierárquica social pela cor da pele e o fato de o Brasil ter a terceira maior população carcerária do mundo. Citou como exemplo o jogador Vini Junior que, mesmo milionário, sofre racismo. Mas foram as situações de racismo vividas no setor de saúde que chamaram a atenção. Relatos de queixas das pacientes que foram minimizadas pelos médicos ou enfermeiros acenderam um debate sobre os direitos a uma saúde antirracista. Ao ampliar a consciência sobre seus direitos, as famílias também podem exercer mais plenamente sua cidadania e conquistar mais dignidade para suas vidas. 

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