“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, escreveu o educador Paulo Freire. No Instituto Dara, a Educação, um dos cinco componentes do Plano de Ação Familiar (PAF), é esse o motor de mudança.

A educação como motor de mudança

Uma das primeiras ações que a família atendida pelo Instituto Dara precisa cumprir é entregar o comprovante de matrícula dos filhos em uma instituição de ensino formal. Para que o atendimento à família seja levado adiante e concluído, as crianças entre 4 e 17 anos precisam estar estudando. Afinal, tal condição é uma exigência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que é voluntariamente verificada pelo Instituto Dara.

Além de acompanhar a frequência e o rendimento escolar, nossa equipe estimula a participação direta dos pais na educação dos filhos. Normalmente a família é incentivada a apurar e fornecer essas informações escolares, mas há casos em que o próprio Dara entra em contato com o centro de ensino para tentar solucionar problemas. Os profissionais da área de Educação, no entanto, deixam explícito que o papel dessa cobrança é da própria família, estimulando o desenvolvimento do afeto com a criança e a curiosidade sobre suas necessidades.

Educação para pais e filhos

No paralelo, os pais são incentivados a retornar aos estudos. A maioria dos responsáveis foi obrigada a abandonar os estudos cedo por diversos motivos, entre os quais a necessidade de contribuir financeiramente com a renda da casa. Sobretudo para as mulheres, pesam ainda gestações não planejadas, responsabilidade com as atividades domésticas e abandono do pai da criança antes mesmo de o filho nascer.

A educação em números

Nós mostramos que é possível recomeçar, e o maior incentivo é que as chances de a renda aumentar crescem com o ensino médio completo. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, o Brasil é um dos dez países com mais analfabetos no mundo. Se acordo com a ONU, são 13 milhões de jovens e adultos com mais de 15 anos que não sabem ler nem escrever.

Por que a criança não está na escola?

Nas famílias em vulnerabilidade extrema e fragilidade social, nosso público-alvo, são vários os motivos para a evasão escolar infantil ou queda de frequência nas aulas. Um levantamento da organização Todos pela Educação mostrou que, em 2021, 244 mil jovens entre 6 e 14 anos estavam fora da escola, o maior número em seis anos.

Não é incomum ouvirmos que o mesmo aconteceu com os pais e com os pais dos pais. A miséria castiga em ciclos. Nosso papel é dar instrumentos para que eles quebrem essas barreiras.

Nos encontros, percebemos que os problemas mais comuns para a evasão escolar são a distância da escola, em geral longe das casas de famílias sem recursos para arcar com despesas de deslocamento. Além disso, existe a dificuldade dos pais de levar e buscar o filho na escola em razão do horário de trabalho. E ainda, ter uma pessoa da família debilitada que exige atenção exclusiva do adulto responsável.

Todos esses problemas podem e precisam ser resolvidos, muitas vezes com a ajuda dos profissionais das demais áreas do PAF e conscientizando as famílias sobre a importância de as crianças e os adolescentes em idade escolar se manterem na escola e os adultos retornarem às atividades escolares para, além de conseguir melhores oportunidades no mercado de trabalho, servirem de exemplo e incentivo aos mais jovens. Os caminhos são vários, como apoiar na busca por escolas mais próximas ou ajustar os horários da família, para que seja possível garantir a rotina escolar junto com as demais necessidades.

Educação e acesso ao mercado de trabalho

O principal argumento para a volta às aulas dos adultos é aumentar as chances de conseguir um bom emprego e, assim, melhorar a renda familiar. O certificado de conclusão do ensino médio é uma exigência básica para muitos concursos públicos e para vagas com maior pretensão salarial na iniciativa privada.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, o número de matrículas do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), popularmente conhecido como supletivo, tem caído de forma gradual no país, de um pico de cerca de 5 milhões em 2007 para 3 milhões em 2020.

Quando a educação se torna a ponte para um emprego melhor, para o aumento da renda familiar, fica mais fácil criar a cultura dos estudos na família atendida. E os adultos acabam virando exemplo do poder transformador do conhecimento para as crianças. É, como repetem os pedagogos e demais profissionais e voluntários da área de Educação, “um trabalho de formiguinha”. E nunca é um processo simples. Mas o resultado é recompensador e impacta positivamente não só na renda como também na autoestima de toda a família.

A retomada dos estudos na prática

Um dos primeiros passos é conscientizar as famílias sobre a necessidade dos estudos concluídos. Em seguida, guiá-los para os núcleos de EJA da rede pública de ensino. Mesmo os pais que já entendem os benefícios da volta às aulas, muitas vezes não sabem por onde começar. Algumas orientações práticas contribuem para a retomada:

  • procurar o núcleo de EJA nas escolas mais próximas de casa;
  • levantar a documentação necessária para a matrícula;
  • levar os documentos e efetivar a matrícula;
  • criar uma rotina de estudos, mesmo que seja de pouco tempo no início;
  • assumir essa retomada como um compromisso que trará impacto na vida de toda a família.
Certificado e competências para o mercado de trabalho

Com a rotina estabelecida e os estudos em andamento, conseguir o certificado de conclusão do ensino fundamental ou médio fica mais perto da realidade. Também fica mais fácil desenvolver competências exigidas no mercado de trabalho. O Instituto Dara mantém projetos que apoiam essas frentes, como a seguir.

Grupo de estudos: para apoiar quem está fora da idade escolar a conquistar o certificado de conclusão do ensino fundamental e médio. Por meio de um grupo de estudos via aplicativo de mensagens, repassa, de forma sistemática, todo o conteúdo do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).

Conectados: oferece cursos de inclusão digital e de aplicativos básicos exigidos nos currículos profissionais. O público do projeto são jovens entre 15 e 29 anos que não tiveram a oportunidade de aprender a usar um computador.

A mais recente iniciativa estimula aqueles que já conquistaram o certificado de conclusão do ensino médio a ir além, informando sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que é a porta de entrada para universidades públicas e privadas, o Consórcio Cederj, que reúne instituições públicas do Rio de Janeiro com a proposta de democratizar o acesso ao ensino superior público na modalidade Ensino a Distância (EaD) e bolsas de estudos em universidades particulares.

Array