“Aprendi que meus obstáculos não podem ser maiores que o meu sonho”
No Instituto Dara, Ana Paula Ferreira Antonio encontrou acolhimento e estímulo para cuidar de si e da família. A educação revolucionou sua vida. Ela retomou os estudos e entrou na faculdade. Hoje passa adiante o que aprendeu com a gente.
Depoimento de Ana Paula Ferreira Antonio, de 37 anos
Mãe de Weslen Patrique, de 21 anos, Evelyn Vanessa, de 19, e Geovana, de 12
Aprendi a dar prioridade para a minha educação e dos meus filhos no Instituto Dara, porque minha mãe, infelizmente, não teve condições de fazer. Minha mãe se separou do meu pai quando eu era bem pequena. Éramos cinco irmãos, muita criança para cuidar e uma casa para sustentar sozinha costurando e lavando roupa para fora. Eu deixei a escola depois do nascimento do meu segundo filho. Tinha 18 anos e estava na 8a série (equivalente ao 9o ano). Hoje estou na faculdade.
O início de tudo
Quando entramos no Instituto Dara meu filho mais velho, Weslen, então com 10 anos, tinha sido diagnosticado com uma doença grave nos rins, depois de 15 dias de internação. Minha filha caçula era um bebê de colo. E morávamos em uma casa pequena distante do Dara. Eu nem sequer sabia circular de transporte público pela Zona Sul e levava comigo uma criança doente e uma no colo. O pai das crianças estava desempregado e não ajudava. A única renda lá de casa vinha do trabalho da minha mãe, que também não era fixo.
Primeiro, recebi acolhimento e suporte para o tratamento médico do meu filho, que incluía medicamentos, exames e custo de transporte. Depois, ajuda com a caçula, que passou a ter muitas alergias. Mas essa não foi a principal mudança em nossas vidas.
A descoberta do caminho
Com meus filhos, descobri o lazer e a arte. Dentro do instituto havia um grupo de atendimento a adolescentes, que eu amava. Meus dois filhos mais velhos participavam, e eu ia junto. Eles faziam encontros com dinâmicas de grupo e, depois, excursões para pontos turísticos, como o Pão de Açúcar, e visitas a museus e teatros. Mesmo eles podendo ir sozinhos, fazia questão de participar. Poucas mães iam, eu era uma das mais participativas. Aquilo era uma realidade tão distante de mim… Ir ao museu. Uma coisa tão simples, mas muito longe da minha realidade. Vivenciei o que não pude na minha adolescência e, ao mesmo tempo, estava tendo a chance de ser mãe ao lado dos meus filhos. Pude começar a ser uma mãe mais presente.
Foi em uma dinâmica de grupo, com testes vocacionais, que minha filha do meio descobriu que queria seguir a carreira militar. Passou a estudar e mirar isso. Mas eu precisava ter estrutura para quando aquilo acabasse, queria aproveitar ao máximo o instituto.
Aquela foi também a sementinha plantada do serviço social, ver como aquelas assistentes sociais trabalhavam com as famílias. Demorei um pouco para perceber, mas foi uma inspiração fundamental para mim.
Encontrando a vocação
Uma das frentes de trabalho do Dara é nos ajudar a encontrar nossa vocação. A princípio, o instituto me ofereceu um curso de cabeleireira. Eu queria a oportunidade, mas sabia que não exerceria a profissão, tirando a vaga de alguém que poderia aproveitar mais. Conversei e disse que queria fazer um curso de vigilante. Eles não tinham, mas disseram para eu procurar um. Encontrei um curso rápido, com 15 dias de duração, e eles pagaram para mim. Em pouco tempo comecei a trabalhar como freelancer na área, em feiras e eventos, e não faltou trabalho durante as Olimpíadas e a Copa do Mundo, realizadas no Rio de Janeiro naquela época. Mais tarde, consegui um emprego fixo no aeroporto internacional.
Saí do Instituto Dara com uma profissão e consegui pagar colégio particular para os meus filhos. Passei a investir na minha educação. Saía de casa às 4 da manhã para chegar na hora no aeroporto. Depois, ia para o supletivo. Com o ensino médio completo, consegui um emprego mais perto de casa. Eu queria mais.
Do sonho à universidade
Na hora de escolher o ensino superior, o serviço social não saía da minha cabeça. Tinha uma vontade, mas era muito longe, caro, quase impossível. Até que no aniversário de uma prima, encontrei uma amiga dela que estava começando no curso. Senti que tinha chegado a minha hora.
Entrei na faculdade de serviço social. Eu tenho muita dificuldade na escrita, porque a base dos meus estudos foi ruim, mas aprendi no Dara que os meus obstáculos não podem ser maiores que o meu sonho.
Faço estágio na Secretaria de Assistência Social de Nova Iguaçu, trabalhando em um projeto de apoio à primeira infância, com crianças de 0 a 3 anos, e em outro com mulheres grávidas. Lá, tento reproduzir o serviço de qualidade que me impactou nos tempos do Instituto Dara.
Meu filho mais velho, Weslen, é formado no ensino médio e eu pago curso preparatório para a Evelyn, que quer ser militar, e curso de inglês para a Geovana, a mais nova. Eles podem dizer que não quiseram aproveitar, mas não podem dizer que não tiveram a oportunidade. Aqui em casa, eles podem ser o que quiserem.
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