A área de Saúde enfrenta o desafio de mostrar para as famílias atendidas no Dara que acreditar em seu potencial é também uma forma de mudar realidades

Fortalecer as mulheres

“Agora gosto mais de mim. Antes eu não conseguia me olhar no espelho porque a gente fica meio oprimida, para baixo. Quando vim para cá, comecei a ver as coisas de outro ângulo. Comecei a perceber que nós temos que gostar da gente…”

Esse depoimento é de uma mãe atendida pelo Dara. Um depoimento que traduz o que notamos frequentemente: olhar cabisbaixo, ombros arqueados, poucas palavras em uma voz que não se projeta. Inegavelmente, o corpo fala de uma condição comum à maioria das mulheres que chegam ao Dara: a baixa autoestima.
Nosso maior trabalho é fortalecer essas mulheres. Não negamos que os fatos enfrentados são complexos nem que a solução pode levar tempo. Mostramos como cada uma é, sim, capaz de enfrentá-los, solucioná-los e melhorar a realidade da família. A partir do olhar, da escuta e do acompanhamento elas começam a se enxergar de forma diferente.

O registro antes e depois

Quando chegam aqui, fazemos um registro fotográfico de todas as mães que aceitam. Elas não sabem, mas ao final dos dois anos de atendimento no Instituto Dara vão reencontrar a si mesmas naquele dia da chegada. Muitas nem se reconhecem, tamanha a transformação.
A vulnerabilidade em que vivem mais a jornada de cuidados com a casa e com as crianças, muitas com problemas sérios de saúde, consomem toda a energia dessa mulher. Cuidar de si soa irrelevante, mas é aí que a mudança começa. Parece óbvio, mas precisamos mostrar que, além de mãe, existe ali também uma mulher. E que as duas podem — e devem — existir juntas.

No trabalho intersetorial que o time do Dara faz, o impacto das outras áreas se reflete diretamente na autoestima e, assim, na saúde dessas pessoas. Nos cursos profissionalizantes promovidos pela área de Renda, por exemplo, elas aprendem técnicas de maquiagem, gastronomia e cabeleireira. Ali, vão descobrindo talentos e potencialidades que, muitas vezes por falta de estímulo e incentivo, nunca tinham percebido.

Uma rede de apoio

Encontrar uma rede de apoio, contar com a ajuda dos filhos nas atividades domésticas, cuidar da saúde, da alimentação e se exercitar também são fatores importantes e incentivados. Encorajamos as mulheres a realizar exames periódicos para saber como está a saúde. Aprendem sobre alimentação saudável e são estimuladas a colocar esse conhecimento em prática em casa. Corpo e mente em atividade para encarar os desafios e mudar a realidade. É isso que vemos acontecer.

Usamos o Aconchego, nossas rodas de conversa nos dias de atendimento, para trazer temas voltados à autoestima, ao autocuidado e à saúde mental, entre tantos outros. É um espaço comunitário de trocas muito ricas e profundas. Uma das grandes contribuições é ser apoio para essas mulheres lidarem com situações e sentimentos muito difíceis, que muitas vezes nem sequer conseguem nomear.

Esse trabalho de escuta e acolhimento pode ser a porta de entrada para que essas mulheres falem e sejam ouvidas, como nunca tinham sido. É possível que se identifiquem com desafios semelhantes vividos por outras mulheres e descubram novas formas de lidar com as situações. Além desse suporte, temos também os atendimentos individuais com nossos voluntários para acompanhamento psicológico.

A transformação individual e coletiva

Percebemos, com o passar dos meses, que aqueles olhos cabisbaixos, que não nos encaravam no primeiro atendimento, cedem espaço ao olho no olho. A postura ereta dá sinais de uma pessoa que tomou as rédeas de sua vida. Elas se tornam mais comunicativas, passam a expressar dúvidas, necessidades, desejos. Partilham sobre suas conquistas.

No coletivo, enxergam as possibilidades para si a partir da escuta das outras mulheres. Aqui elas aprendem sobre outras perspectivas de mundo, a entender que, apesar das dificuldades, são capazes de alcançar o que querem, com dedicação, apoio e acolhimento.

Como disse uma mãe, soltam-se — “antigamente eu era bem mais tímida do que agora, muito tímida. Então aquela roda de conversa foi me soltando para falar” — e também (re)descobrem a si — “com a psicóloga era o único momento que a minha vida era discutida sobre mim. Passei a pensar mais em mim, correr atrás das minhas coisas sem me sentir egoísta por isso. Essa transformação acabou mudando, inclusive, a forma como os outros me veem”.

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